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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

RODOLFO ALEXANDRE INÁCIO –
CASCÃO

( Brasil – Mato Grosso )


"Nasci em São Paulo – no Brás. Era para eu ser engenheiro,
mas descobri em tempo, que o que eu queria mesmo
era viver, e, se possível, mudar este País.
Há cinco anos [ em 1983, quando da publicação da antologia mais abaixo:...] moro em Porto Alegre do Norte, Mato Grosso. Aqui percorro os caminhos, carrego peões, interpreto a voz das coisas, leio, escrevo,".

 

 

POETAS DO ARAGUAIA. Prefácio de Carlos Rodrigues Brandão.  Rio de Janeiro: CEDI,  1983.  132 p.  ilus              Ex. bibl. Antonio Miranda

 

DA MATA À CIDADE


I

ruas planas de asfalto
que como os negros
pisadas
se entrecruzam\


 

e abraçam em cada canto
pálidos edifícios
— ousados
tentam roubar o céu.

ruídos
gases assassinos
estúpidas geometrias
agridem meus olhos sombrios

onde a mata?
onde o rio?


II
e eu que num só dos que adula
vim da foice e da faca
canto de cara mia bula:
— óia seu mundo, babaca!
ocê que pensa que me anula
co´a sua soberba de jaca
pode fica co´a sua gula
sua zoada véia de matraca.
feito esses fio caçula
fujo de tu, da tua taca
enquanto ocê só regula
qué cobrado na catraca
da goela um riso me pula
zombo de tu iguá macaca:
tá escondidim na matula
minha farofa de paca.


III

cúmplices do extermínio
teus alicerces
escondem
traiçoeiros
fósseis dos Tamoios
araras emudecidas
cinzas de pau-brasil

onde a prata?
onde o cio?


IV
pode vim, vem, sua peste
cê que pensa que me cala
sô cabra macho de agreste
ressorvo nas leis ou na bala
num sô de prosa ou intriga
mas num injeito uma briga
cê que põe tudo na linha
esbarra que eu berro e te falo
tu sobe em mim como um galo
mas desce feito galinha!


V
pelos teus calabouços
circulam massas formiguentas

tuas asfixias
esterilizam
gradativas
o jeito malandro de gozar a vida
violentos espaços
os sentidos
o sol

...até o mar lá se some com seu ar fugidio

ah mulatas
onde o Rio?



       ALVORECER

As mãos
que erguem
o punho

guardam
entre
os dedos
o segredo.

Os dedos
que firmam a
enxada

açoitam o
gatilho
do amanhã

alvorada de libertação.

 

 

CONSPIRAMOS

Mal sabem eles
que um dia
olharemos para os prados
e só veremos
um mosaico de estacas
enfileiradas
inválidas
sem arame
conspiramos

 

 

POSES DA VIDA

A sala de aula
fria, áspera,
necessária

de repente
se transforma:
bandeirolas coloridas
rasgando o teto
lado a lado
num viço novo
de vida viva
luz

o sanfoneiro
chega ansiado
e o forró come quente
a noite inteira.

 

***

 

                                         

Água
Peixe  Água
Karajá  Peixe  Água
Posseiro  Roça  Praia
Tubarão  Avião  Ar
Água  Praia  Ar
Ar  Água  Praia
Araguaia

*

      

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/para/para.html

 

Página publicada em outubro de 2022


 


 

 

 
 
 
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